terça-feira, 18 de janeiro de 2011

NINGUÉM É SANTO (PARTE 1)

Acabei de ler um artigo do Dr. Jung Mo Sung[1] e então resolvi devanear nesse único espaço que me resta para rascunhar minhas cacografias pretas. Depois de ler o artigo, comecei a relembrar as várias leituras bíblicas que realizei em minha época de seminário acerca da santidade, mais precisamente sobre a santidade do crente.

Dentre as diversas passagens bíblicas, as quais fundamentam nossa afirmação temática, quero destacar algumas, dentre elas: 2 Samuel. 11: 1-9 (queda moral do rei Davi), Números. 20: 13 (incredulidade do Profeta Moisés), Genesis. 9: 24 (embriaguez de Noé), 1 Reis. 11:3 (Salomão e seus amores), 1 Reis. 17;18;19 (Elias e seus contrastes), Juízes. 14-16 (Sansão e seus pecados), Jonas. 1:3 (Jonas, o rebelde), Marcos. 14: 17-21 (Pedro que nega a fé) e Romanos. 7: 19; 12: 7 (crises e desesperos desse Apóstolo). Obviamente, outras passagens que retratam fracassos, desapontamentos, inseguranças, pecados e rebeldias podem ser lidas em vários livros da Bíblia, mas optamos destacar apenas as citadas acima.

Além dos textos sagrados, nos deparamos também com histórias de homens e mulheres, ungidos e ungidas de Deus, verdadeiros (as) “santos” (as) que nos desapontam com suas falhas humanas. As histórias vão de pedofilias e abusos aos variados escândalos e exploração da fé alheia nos quatro cantos do Brasil, afinal, sempre costumamos esquecer a passagem do Evangelho de João. 8: 7 “... Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.” Esquecemos também que a passagem do Evangelho de Mateus. 26: 41 nos ensina sobre a fraqueza humana e que no decorrer da história da igreja inúmeros são os casos não muito convencionais aos olhos da fé (Ex: Cruzadas, Inquisição, Pós Reforma, Missões no Brasil e Movimentos Neopentecostais).

Com base em Mo Sung, entendemos do ponto de vista antropológico que nós seres humanos, costumamos criar mitos, de fato, somos construtores de mitos, principalmente religiosos. Nossos mitos religiosos são simplesmente uma representação daquilo que projetamos em nossos “heróis” e “heroínas”, uma espécie de perfeição e impecabilidade que almejamos e exigimos martiriamente de nós mesmos (as) e, acima de tudo, dos (as) outros (as). O mito religioso criado em torno do “santo” e da “santa” costuma endeusar ou tornar as pessoas “impecáveis”, ao nível de santidade que as torna “ídolos”. Mesmo inconscientemente, nos tornamos adeptos de uma antropologia otimista a qual nos proporciona idolatrar e, mais precisamente, a santificar todas as dimensões da vida dos outros.
Acredito na tese de que antes de sermos “santos” (as) somos humanos (João. 1: 14 – a Palavra que se faz carne, isto é, torna-se humana). Acredito ainda que os dualismos da vida cristã sempre estarão conosco na caminhada de fé (Gálatas. 5 – quem é perfeito (a)?) Precisamos entender que a santidade representa o fato de aceitarmos que somos humanos falhos, cheios de imperfeições, por isso precisamos viver da melhor forma possível em meio às contradições que a vida nos revela. Precisamos entender que ser santo (a) não significa superar a condição humana, pelo contrário, significa reconhecê-la nos humanos “pequenos” e, na medida do possível, amá-los como se fossem nós mesmos (as), humanos falhos e carentes de Deus, eis a busca da perfeição (Mateus. 5: 48). Muitas vezes esquecemos de ler o capitulo 23 do livro de Jeremias e assim entendermos que sempre teremos "santos" hipócritas conosco.

Lamentavelmente, muitos cristãos fervorosos tendem a adotar um discurso do “crente perfeito” ou de um “povo celestial”, o qual resulta em acusações, ou seja, em “apedrejamento moral” justificado a base de passagens bíblicas isoladas e hermenêuticas demonizadoras as quais rejeitam as ocorrências históricas e, acima de tudo, tentam camuflar quem nós somos de verdade. Ninguém é santo mesmo.
Como soa a canção pop: “Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra”.
Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL
 

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