quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PASTOR (A) DE IGREJA E PASTOR (A) DA COMUNIDADE: DIFERENÇAS E PONDERAÇÕES


Sempre tive vontade de escrever umas bobagens sobre essas diferenças que acabei construindo em minha massa cefálica achatada e desproporcional à minha estética craniana. Sempre tive curiosidade de saber ao certo o que diferencia um (a) pastor (a) que trabalha na comunidade e o que trabalha na igreja. Eis duas coisas completamente diferentes: um pastor que atua comunitariamente e outro que atua eclesiasticamente.


Bom, pra inicio de conversa, devemos então classificá-los e, assim, trazer algumas ponderações sobre essas figuras nobres e bastante controvertidas. Eu costumo dizer que o (a) pastor (a) de igreja é aquele (a) velho (a) defensor (a) do sistema religioso imperante. Luta com “unhas” e “dentes” para defender seu status quo e de sua denominação. O (A) pastor (a) de igreja é tipicamente um (a) representante do modelo eclesiástico existente, imposto historicamente, opressor e imbuído de tradições humanas envoltas de muita presunção e fundamentalismo religioso.

Para essa figura eclesiástica, o importante é defender sempre a “sã doutrina”, guardar sempre os costumes e tradições religiosas reguladoras do aparato midiático e aceito pela maioria. Isso mesmo, o negócio é ter público, ter a maioria ao seu lado, ganhar bem e esbanjar pompa e vaidade religiosa e, acima de tudo, ser endeusado, adorado e respeitado por todos e todas, principalmente, por seus subordinados. Essa nobre figura preocupa-se apenas com o aparecer ser. Ser aquilo que as pessoas querem que ele (a) seja sempre. A instituição exige e obriga-o a tal feito social.

O (A) pastor (a) de igreja é também uma autarquia institucional. Sempre está disposto a servir a instituição. A instituição religiosa é o principio e fim de todas as coisas, pois sem ela, o título não servirá para angariar recursos para a sua sobrevivência eclesiástica. A instituição, neste caso, torna-se o fulcro da vida religiosa, passa-se a viver somente para ela, sem rodeios. Essa nobre figura não ousa questionar, tampouco, pensar além do já estabelecido. Apenas repete. Simplesmente repete. Um velho mantenedor do sistema existente.

Essa nobre figura cristã vive em busca de pedestais sagrados. Trata-se de uma pessoa respeitada, querida e venerada pelo sistema religioso imperante e, principalmente, pela sociedade elitizada e guardiã dos bons costumes divino-sociais. Sua preocupação é unicamente manter nítido o rótulo denominacional, pois sem o rótulo bem visto, não há ascensão de cargo e, nem tampouco, reconhecimento bancário e muito menos midiático.

O (A) pastor (a) de igreja sempre estará preocupado em quantidade, em mostrar-se muito mais capaz que seu colega de ministério, pois o lema é: igreja grande é sinal de pastor querido e bom guardião da “sã doutrina”. Sua angústia estar em saber que seu colega de ministério está prosperando pastoralmente, logo, é preciso fazer alguma coisa para impedi-lo de crescer, caso contrário, sua posição estará por um fio. É mais ou menos assim a vida de quem está para servir a igreja, viver para ela e morrer por ela. Não passa de um (a) mantenedor (a) do que já existe.

Já o (a) pastor (a) da comunidade é o inverso de tudo isso e mais um pouco. Essa figura comunitária preocupa-se com os anseios do povo. Sua base ministerial será sempre o serviço, a construção de sonhos e esperanças, a abertura de horizontes e preocupação com a qualidade dos serviços comunitários, bem mais amplos e inclusivos. O (a) pastor (a) da comunidade será sempre um (a) questionador (a), nunca se cala diante das opressões institucionais e, principalmente, religiosas, pelo contrário, vive pela justiça e por acreditar nela.

Os costumes e tradições impostas recebem uma nova roupagem, um olhar mais aguçado, repleto de perspectivas novas, visando o aperfeiçoamento do povo, principalmente dos menos instruídos. Essa figura comunitária age samaritanamente, sempre voltada para o bem estar do povo, para a construção de um mundo mais justo. Um (a) verdadeiro (a) construtor (a) de cidadania, pois em primeiro lugar está o valor da vida, os anseios do povo, a ética do cuidado, do vir para servir mais.

O (A) pastor (a) da comunidade não está preocupado (a) com os holofotes denominacionais, tampouco, preocupado (a) com o crescimento oneroso de sua conta bancária. Essa figura comunitária acredita em reformas, acredita em rupturas, acredita em diálogos, acredita em desconstruções, acredita nos sonhos do “outro”, ouvindo-o, discutindo e buscando as melhores alternativas em prol da vida, da vida plena, de um mundo mais humano e menos difícil de amar. O aconselhamento pastoral se faz na visita aos lares, no encontro com o próximo, diferentemente dos gabinetes pastorais refrigerados.

O sistema é encarado como opressor e desproporcional a liberdade de pensamento e expressão. Essa figura cristã não se adapta aos guetos eclesiásticos existentes. Pelo contrário, defende com todas as “garras” aquilo que acredita ser o melhor para o povo, para o caminhar do rebanho de Deus. Lembre-se, aqui o rebanho será sempre de Deus. Esse (a) pastor (a) não está preocupado (a) com as nomenclaturas excludentes midiatizadas, criadas em laboratórios denominacionais, proliferadas por seus recipientes engravatados e aplaudidos pelos mantenedores do poder opressor e sempre lucrativo.

A grande diferença entre ambos (as) está na covardia e coragem. O (A) pastor (a) de igreja é um (a) verdadeiro (a) representante da covardia religiosa em nome de Deus, pois com ela: exclui, demoniza, julga, sentencia, condena e mata, tudo isso em nome da fé institucional, do sistema religioso imperante. Enquanto o (a) pastor (a) da comunidade ainda lhe resta a coragem para dizer não às atrocidades julgadas dignas e detentoras da “verdade” cristã. (O) (A) pastor (a) comunitário (a) não se cala diante da sua consciência, muito menos, age como falseador (a) da verdade bíblica.

Infelizmente, a covardia tem contaminado as mentes dos ditos revolucionários religiosos, tornando-os meros moderadores e neoconservadores das antiquarias repetições histórico-culturais imbuídas nas mentes convencionais, pandemicamente distribuídas nos arraiais eclesiásticos e comunitários.

A coragem, infelizmente, ainda continuará tímida e quase morta com aqueles (as) que, por força maior, digo, institucional, continuarão no anonimato eclesiástico a serviço do sistema religioso imperante e com um futuro religioso bastante lucrativo. Caso você seja católico (a), troque a palavrinha pastor e adapte o textozinho ao seu contexto religioso. Acho que ficará interessante.

Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL

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