sábado, 7 de agosto de 2010

ENTRE PALMADAS, ESTADO E CRIANÇAS

Depois de algumas palmadas do meu querido pai, fiquei com mais disposição para escrever em meio as palmadas atuais, Estado e muita criança que me cercam. Este emaranhado político-midiático ganhou repercussão após a comemoração dos 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA durante o mês de julho.

Em primeiro lugar, nunca fui de tomar muita palmada, digo, muita. Estou um pouco crescido e, particularmente, acredito não sofrer de nenhum distúrbio mental ou comportamental devido às palmadas dos meus queridos e amáveis pais, diga-se de passagem, interioranos e nordestinos batalhadores.

Tudo é motivo para tornar-se lei, é lei disso, daquilo, sei lá o quê. O fato de eu ser contra a esta lei invasiva, redundante e inócua[1], não significa dizer que sou a favor de palmadas e todo tipo de agressão física ou psicológica, pelo contrário, não creio que a ação de bater, eduque.

Acredito que o aparelhamento do Estado não está preparado e nem possui o direito de invadir a vida privada de maneira a coagir os modelos familiares. Acompanhando a entrevista da psicóloga e educadora, Rosely Sayão[2], percebi que essa lei não ensinaria aos pais como educar seus filhos, nem tampouco, tornaria os Conselhos Tutelares mais eficientes e, cima de tudo, as crianças mais humanas.

De um lado, vem a coação do Estado, do outro, a coação dos filhos. Desse modo, há uma confusão extrema nesse projeto. Uma coisa é castigar, maltratar, outra coisa é dar uma palmada ou um beliscão em nosso filho, principalmente em nosso seio familiar. Bom, quem poderia responder-me que o Estado está preparado para oferecer programas de proteção à família e tratamento psicológico a advertência e até perda da guarda?

Até que ponto a autoridade dos pais terá consistência? Até que ponto as famílias terão autonomia na educação dos seus filhos? Até que ponto o Estado terá o direito de invadir a vida privada? Até onde vai o direito do Estado e da família? Até que ponto o Estado deve determinar aos pais como criarem seus filhos? Até que ponto essa lei, caso seja aprovada, será cumprida na prática? Nossas instituições estão preparadas para os aspectos práticos? Afinal, na prática, funcionará mesmo?

Discutir pontos de vista diferentes é diferente de se criar leis[3]. Quem poderá garantir que crianças “endiabradas” serão facilmente libertas através do diálogo e de uma boa coçada? E com umas boas palmadas, resolve? Quem garante isso?

Não sou e nunca serei a favor do espancamento e reprimendas físicas. Engraçado é que de acordo com pesquisa do Datafolha[4], a maioria dos brasileiros que já deu e levou palmada é contra a proibição da lei antipalmadas. De acordo com a pesquisa, 54% dos entrevistados são contra o projeto do presidente, cujo afirma: "Beliscão é uma coisa que dói pra cacete".

Talvez, o contexto de vida particular possa estar assumindo um lugar de destaque no Congresso, pois essa história de nunca ter apanhado dos pais, não me convence. Será que nunca apanhou mesmo? Apanhar é a mesma coisa de levar uma palmada ou um beliscão no braço? Têm o mesmo efeito, entre uma palmada e uma surra? Resta saber se os Direitos Humanos funcionam na prática, bem como suas ONGs de classe média, presentes nos grandes centros brasileiros.

Talvez, as emoções legislativas não enxerguem que não existe pessoal o suficiente para fiscalizar com decência. Talvez, de acordo com a psicóloga Teresinha Costa[5], não saibam que a autoridade dos pais também faz parte da educação dos seus filhos, claro que isto não é uma regra. Talvez, as emoções legislativas não saibam que crianças precisam de limites, claro, sem uso da violência. Talvez, não saibam que será mais uma lei que não sairá do papel.

A educadora Tânia Zagury escreve que “Daqui a pouco, haverá filho ameaçando denunciar o pai, usando isso para coagí-lo a fazer o que quer”.[6] Para ela, possíveis problemas como o despreparo do Estado; se cabe aos Conselhos Tutelares ou aos profissionais da área de serviço social, pedagogia e psicologia verificar as ocorrências; e, mais, acompanhar e encaminhá-los com toda uma rede de atuação. E agora? O Estado dispõe dessa mão de obra?

A aplicabilidade desta lei não será tão fácil como imaginam as emoções legislativas regidas pelos corações da base do governo e de algumas comissões em que uma mão lava a outra[7]. De acordo com Rosely Sayão, “Não creio que, necessariamente, a palmada seja prejudicial. Mas se há meios melhores do que esse e não violentos, por que precisamos usar a palmada, não é verdade?[8]. Preocupa-se a questão da violência, claro que existem casos extremos, mas beliscar ou dar umas palmadas não constitui-se ato de violência ou castigo extremo. Você acha que sim ou não? Com base na autora, não concordo com essa história de palmada didática ou pedagógica, conforme reza o chavão midiático, pois trata-se de um paradoxo gritante. Já pensou, apanhar pedagogicamente? Já pensou em tomar umas palmadas didáticas?

O caso não é tão simples assim, pois de acordo com Rosely Sayão, existem casos nos quais pais que dão palmadas e são permissivos em demasia e pais que nunca bateram e são rigorosos na educação de seus filhos. Contudo, hoje em dia parece que são os pais que sentem medo dos seus filhos. Assim, com a nova lei, até segurar uma criança mais firme para coibir algo pode parecer uma agressão[9].

Resta, portanto, continuar ouvindo e lendo as discussões entre educadores, profissionais da área, pais e mães, crianças e adolescentes, sociedade e, acima de tudo, políticos especialistas no assunto para assim, aprendermos a ter muita paciência e diálogo, para isso, um pouquinho de fé irá ajudar. Palmadamente concluo.

Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL.

Fonte: http://www.pastoradrianotrajano.blogspot.com/

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