sexta-feira, 11 de junho de 2010

AMOR, BEIJO E SEXO LÍQUIDO

O badalado dia dos namorados estar chegando, não poderia deixar escapar do nosso Blog esta data tão importante para os namorados e namoradas Brasil afora. Foi preciso partir de Zygmunt Bauman[1] e ouvir Sérgio Cortela[2] para poder escrever alguma coisa sobre a liquidificação dos relacionamentos atuais.

Estou em meio à rapidez dos relacionamentos, descartaveizações, afrouxamentos, desatamentos, ambigüidades, moedizações, levezas, virtualizações e internetlizações do sexo, amor e beijos afins.

Desculpe-me as palavrinhas novas, mas confesso-lhes que gostei bastante, expressam muito bem a minha crise líquida. De fato, estamos mergulhados em uma sociedade liquidificada e pragmatista, ou como diria Cortela, uma “sociedade miojo”.

Na “sociedade miojo”, tudo é muito rápido, mas tudo mesmo, o que você imaginar, tudo é muito rápido. Sexo rápido, beijo rápido, namoro rápido, casamento rápido, abraço rápido, amor rápido, paixão mais que rápida, amizade rápida, olhar rápido e carinho rápido.

Os relacionamentos atuais em sua maioria apresentam lealdade pequena, compromisso descartável e intenções estupidamente avarentas. Em plena véspera do dia dos namorados podemos presenciar a moedização dos namoros, tudo parece está em volto do gastar mais, do encarecer mais, do mostrar-se mais moedizado, pobres relacionamentos dinheiraizados.

Além da miojização e liquidificação dos relacionamentos, há também suas relativizações, pois é, tudo passa a ser meramente relativo. As expressões: depende...; pode ser...; mais ou menos...; não é bem assim não...; hoje é diferente...; tá na moda...; normal de mais...; as coisas mudaram... e a pós modernização parecem soar primordialmente nos relacionamentos.

Fazendo uso da expressão corteliana, estamos diante da miojização dos laços afetivos, pois os drives in e thru, também são vividos nos relacionamentos. Os relacionamentos tornam-se cada vez mais frágeis e super práticos, a cama acaba sendo substituída pela poltrona do carro ou assento da moto, daí a expressão popular, ela é "Maria gasolina”.

Tive que ouvir Ariano Suassuna[3] para poder compreender que até as músicas de hoje em dia não passam de águas correndo de córrego adentro, mais parecem drogas alucinógenas, pois além de tornar os seres humanos dependentes, enlouquecem-os, conduzindo-os ao hospital psiquiátrico.

De fato, as músicas com apelos sensuais e dúbias, parecem anestesiar nossas pobres mentes, basta uma displicência e logo estamos repetindo inconscientemente os flagelos melódicos a preço de três por cinco e com direito a extras.

Como falar de amor? Como falar de beijo? Como falar de sexo? Acredito que o amor simplesmente vem sendo substituído pelas carícias ardentes, isto quando há carícias. Acredito que o beijo vem sendo substituído simplesmente pelo molhar das línguas. Acredito que o sexo simplesmente vem sendo substituído pelo ejacular-se.

A virtualização ou internetalização dos laços afetivos ocupam posição de destaque. Hoje é comum namorar pela internet, basta uma web cam e um simples teclar incompleto que logo estamos conectados na frouxidão dos laços humanos.

Ironicamente, existe até concurso para quem beijar mais, programas televisivos servindo de cupidos e expondo ao ridículo pobres criaturas desencantadas e envoltas às águas da modernidade líquida.

Tudo acaba dissolvendo-se rapidamente, o mundo virtua substitui o mundo real, vivemos num mundo com crise de sentido, tudo parece estar sem sentido algum, já dizia Leonardo Boff[4].

Tudo passa a ser normal...; descasar-se, ter amantes; abortar esportivamente; mascarar matrimônio; trair e coçar; ser o que os outros querem que sejamos; reproduzir sons e imagens perfeitas de uma sociedade individualista e consumista ao extremo; estudar de acordo com as normas do mercado; preferir um belo par de coxas do que uma cabeça inteligente; sonhar de antemão ser um jogador de futebol do que estudar. Enfim, a onda é dançar o rebolation.

Na sociedade liquidificada, o negócio é comprar um bom e belo presente no dia dos namorados, pois se não gastar muito, adeus beijo e sexo. Tudo parece girar em torno da fragilização dos laços humanos e das suas múltiplas mudanças cotidianas.

O amor parece esfriar-se cotidianamente. Refiro-me ao querer bem, respeito, confiança, transparência, reciprocidade, desejo, amizade, atração, sonhos em comum, companheirismo, felicidade, construção familiar, compreensão, perdão, altruísmo e a paciência. Acredito, infelizmente, que essas virtudes parecem estar fora de uso.

O beijo parece enojar-se cotidianamente. Refiro-me a vulgarização do trocar dos lábios e línguas, ao fechar dos olhos descompromissados, ao tocar dos rostos sem expressão de afetividade, sem complementaridade, sem sentir-se parte de outrem, sem sabor de quero mais e sempre, beijos secundários, descartáveis, sem excitação, sem consistência amorosa, beijos líquidos, inodoros.

O sexo parece vulgarizar-se ao extremo. Refiro-me ao prazer comprado, ao abraçar-se repentino, ao sussurrar imediatista, ao envolver-se momentaneamente, ao ejacular-se vazio e sem interioridade, a ausência das preliminares, a ausência de diálogo, a ausência de sentido a dois, a falta do estar com..., uma mera descarga fisiológica e necessidade imposta, pobre sexo liquidificado, incolor.

Que este dia dos namorados seja um dia de reatar, criar, confirmar e projetar compromissos amorosos, afetivos e humanos. Que a santa Palavra de Deus cumpra-se em nós integralmente.

“As muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os rios afogá-lo... Quanto melhores são os teus amores do que o vinho...” (Cântico dos Cânticos. 8: 7a; 4: 10b).

Pastor Adriano Trajano
Humano em uma sociedade líquida.

Fonte: http://www.pastoradrianotrajano.blogspot.com/
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1] BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004; _____. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001;_____. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
[2] Assista ao vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=_Ynnea2uw_8. Parte 1- 4. Acesso em 09 de junho de 2010.
[3] Assista ao vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=4CYfqTWHeRU. Acesso em 09 de junho de 2010.
[4] BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petropolis: Vozes, 1999.

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