sexta-feira, 2 de setembro de 2011

BRASIL, UMA 'SOPA' DE FÉ

     Uma brilhante pesquisa realizada pela Revista Istoé trata da atual migração religiosa existente no Brasil. Bom, que o nosso país é um país crente por natureza e que vivemos em um ambiente de fé cada dia mais descartável e lealdade pequena, isto não é novidade.

Uma coisa eu sei, pense numa ‘sopa’ de fé de todos os preços e sabores que cotidianamente se metamorfoseia.
   A pesquisa mostra que uma nova categoria de evangélicos está surgindo, trata-se dos evangélicos não-praticantes, ou seja, dos religiosos sem templos, um salto de 0,7% para 2,9% isto em apenas seis anos. Isso prova que o universo religioso a cada dia está se distanciando de cartilhas denominacionais ou credos institucionalizados. Sinceramente, esta pesquisa não me surpreendeu, pois acredito na espiritualidade fora dos guetos eclesiásticos e mãos norteadoras.
            Quanto à migração religiosa, isto é latente na historiografia religiosa brasileira, principalmente na cristã. De acordo com a pesquisa, 35% dos umbandistas e candomblecistas eram evangélicos antes de migrarem para os cultos afro brasileiros. Particularmente, em minha pesquisa de campo realizada em oito terreiros de Umbanda no município de Viçosa –Alagoas, ano de 2009-2010, constatei que existem ex-evangélicos na Umbanda e vice versa, bem como católicos praticantes iniciados nesses cultos. Isto só ‘tempera’ muito mais nossa ‘sopa’ de fé brasileira.
            Conforme a pesquisa, pentecostalismo, neopentecostalismo, religiões afro brasileiras, protestantismo histórico, religiões orientais e catolicismo, entrelaçam-se. Compreende-se que as maiores são as semelhanças que as diferenças. Essas relações de aproximidades existentes são explicitas principalmente nas agências de cura divinas proliferadas a partir da década de 70.
            De acordo com a pesquisa, a classe dos neopentecostais é a que mais troca de igreja, é identificada como alguém que “troca de igreja como quem descarta uma roupa velha”. Mais uma vez se comprova que quanto maior for o estado de miséria de um povo, com suas carências e múltiplas necessidades físicas e espirituais, maior será a busca por subterfúgios religiosos, cordas divinas que proporcionem maior segurança para encarar a vida. Constatou-se também que a figura do líder religioso, principalmente entre os pentecostais ainda está em alta, pois os fiéis necessitam de uma espécie de mago religioso para resolver seus problemas e levá-las aos braços do divino. Bom, que o povo adora construir seus mitos e deuses, isto não é nenhuma novidade para nós.
            Lideranças religiosas trocam de espaços com muita facilidade é o que mostra a pesquisa da Istoé. Vemos os exemplos de um pastor que optou pela Umbanda, de um protestante histórico pelo neopentecostalismo, de um pentecostal pelo protestantismo histórico, de um católico que optou pelo protestantismo; vemos também pessoas que não seguem nenhuma instituição religiosa, outras, desiludidas com religião. Esta, por sua vez, trata-se de uma classe que a cada dia cresce no Brasil, a dos sem-religião. Eu por exemplo, estou nesta ‘sopa’ de fé; converti-me no pentecostalismo e hoje estou no protestantismo histórico. Segura-me Deus!. 
            Cresce também o número de adeptos à religião islâmica, no Rio de Janeiro, por exemplo, o número saltou de 15% para 85% em apenas doze anos. Temos exemplos também de adeptos das religiões afro brasileiras optando pelas crenças orientais, cristãos optando pelo Islã e de religiosos optando pela não-pertença religiosa. A pesquisa mostra a fé em constante movimento, pois as razões para mudar de crença vão de problemas financeiros à doenças e solidão.
            Portanto, as migrações entre as religiões e crenças no Brasil estão diante de nós. Tudo isso mostra que o ‘mar religioso brasileiro está pra peixe’. Quem mais experimentará dessa ‘sopa’ de fé?
Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL

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