segunda-feira, 17 de maio de 2010

POR UM TESTEMUNHO SOCIAL DA IGREJA

Entende-se que o Testemunho Social da Igreja implica em sérias conseqüências, pois em todo o Novo Testamento significa que a Igreja é chamada para ser testemunha, [1] isto é, para ser “perseguida”, “rejeitada”, “humilhada”, para percorrer “caminhos difíceis”, “caminhos de morte”, estando sujeita a “lutas constantes” a “pagar o preço” por ser anunciadora do reinado de Deus.

Este testemunho visa proporcionar libertação às massas vitimadas pelo atual sistema-mundo vigente desumano. Opta-se fazer uso do termo “vítima”, ao invés de pobre, pois percebe-se, partindo de Dussel [2] teólogo contemporâneo, que a denominação “vítima” traz uma noção mais ampla e exata do termo pobre. A “vítima” é o outro, como ser humano que vive na profunda dominação ou exclusão, encontrando-se submerso na “dor”, “infelicidade”, “pobreza”, “fome”, “analfabetismo”, “dominação” [3]. É verdadeiramente o “esquecido”.

Este Testemunho Social da Igreja possibilita apresentar uma igreja mais engajada, participativa e compromissada com uma fé política, lutando por uma nova maneira de se pensar a caminhada cristã, frente à sociedade atual.

Crer-se que a fé da Igreja implica numa inserção do cristão na atual realidade brasileira uma vez que por muito tempo, a Igreja têm-se mostrado inoperante ou apática em relação à obra social, entendendo só a evangelização verbal ou o discurso angelical como sua razão de ser.

É por isso que o Testemunho Social da Igreja não deve agir de maneira generosa e produtora de alívio à pobreza das vítimas. É preciso sim, exigência de construção de uma ordem social diferente do atual modelo. Implica em uma opção por uma classe social contra outra, é tomar o partido dos despossuídos, bem como ser solidário com os interesses e lutas das vítimas. [4]

A atual conjuntura cristã conduz o cristão a formular as seguintes perguntas: De que adianta uma ação social sem questionamentos à ordem social vigente? E ainda, por que não colocar em prática um novo modelo de ação social? Teria a Igreja medo de pensar, e reformular seus velhos modelos?

É possível transliterando as palavras de Bogo: [5] “crer que uma [igreja] que perde a noção de tempo e deixa de acompanhar os passos que a evolução da história proporciona, ocupará espaços na sociedade, mas estes serão insignificantes para proporcionar avanços na realização de seus objetivos”.

Acredita-se que Testemunho Social da Igreja deve ser acompanhado de uma fé inteligente, pois a fé o ajuda a situar-se bem dentro da realidade conflitiva, vale dizer, ao lado das vítimas e dentro do lugar do povo marginalizado. A fé produz uma forte sensibilidade pelos problemas da exploração do povo, pois os interpreta como manifestações de pecado e injustiça contra a vontade de Deus. [6]

Trata-se de uma fé engajada, vivida no meio do povo, e não aliviadora do sofrimento humano. Fazendo uso das palavras do teólogo Leonardo Boff [7]; entende-se que o modelo de ação social da Igreja permanece no moralismo, na utopia e no modesto idealismo tão freqüentes na história da Igreja.

Aqui torna-se decisiva a opção fundamental da Igreja a respeito do sentido da dinâmica social: ou a igreja opta pela ordem estabelecida, organizada pela classe dominante com seus interesses capitalistas, ou opta pelos grupos marginalizados, melhor dito, pela classe explorada, assumindo seus anseios de libertação e suas aspirações por uma sociedade diferente.[8]

Compreende-se que este Testemunho Social da Igreja ressurge no próprio povo brasileiro, uma igreja feita realmente povo, dentro do contexto de toda sua variada gama de criatividades e complexidades.

Uma igreja que desenvolva sua tarefa pública no Brasil é uma igreja com empenho social, isto é, engajada nos diversos problemas cotidianos, que está em constante realidade conflitiva.

Não implica em abandonar a prática da oração e celebração do Cristo Salvador; pelo contrário, a experiência com o sagrado conduz e motiva a igreja à prática da justiça e ao estabelecimento do reinado de Deus entre os povos.

Com base em Comblim[9], acredita-se que o desafio proposto estar em “sub-verter” a acomodação. Isto implica em remover dos arraiais eclesiásticos toda concentração de poder; todas as idéias do eu, e, mais ainda, todo e qualquer tipo de triunfalismo cristão.

O Testemunho Social da Igreja aqui proposto, busca a construção de uma sociedade mais justa. Não trata-se de colocar remendos nas camadas sociais através de doações e gestos de piedade cristã, mas vira pelo avesso a atual situação excludente e homicida que dizima a vida.

O Testemunho Social da Igreja implica em crítica, em voz de denúncia contra toda situação que contradiz ao plano de Deus e a mensagem evangélica. Junto com a criticidade frente ao sistema imperante, caminha o anúncio de real fraternidade e de partilha a ser praticado pela Igreja.

Entende-se que um comportamento cristão que não radicaliza-se e compromete-se na história do povo brasileiro, que não participa de seus esforços de emancipação e nem vive uma fé, na qual abre horizontes infinitos para a obra humana na história, seja considerado antibíblico.

Assim, crer-se que o Testemunho Social da Igreja levará a Igreja a engajar-se e a tornar-se mais comprometida com as diversas causas que degradam a dignidade humana, a fim de situar-se na realidade, em meio às massas vitimadas do nosso Brasil, e preocupando-se com os vários aspectos da vida humana e do planeta.

Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL


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