terça-feira, 6 de abril de 2010

Brasil, um país crente por natureza

Quero conversar um pouco acerca do campo religioso brasileiro, pois sempre ouvi Leonardo Boff falar que o Brasil é crente por natureza. Basta caminhar um pouco e a gente ouve as pessoas falarem: “Deus lhe pague”, “Vá com Deus meu filho”, “Deus lhe acompanhe”, “Se Deus quiser...”, “Deus lhe abençoe”, “Só Deus...”, E por aí vai a credulidade brasileira.
 Para entender o campo religioso brasileiro, foi preciso beber da fonte de P. Berger; A. Antoniazzi; R. Prandi; J. Bittencourt; W. Sanchez e para compreender a história da religião no Brasil alimentei-me com E. Hoornaert, para assim, conversar com vocês neste espaço que resta-me para desabafar, escrevendo com vitalidade.De acordo com vários artigos sobre o assunto, a melhor definição do campo religioso brasileiro é o da constante mudança; isto mesmo, trata-se de um campo metamorfoseado.Historicamente, o Brasil sempre teve a presença de uma religião única e oficial, sempre foi marcado por uma ideologia teocêntrica, de cunho cristão, cuja hegemonia foi o ideal tradicional católico romano.De algumas décadas para cá, as coisas foram mudando; perpassando os limites da centralidade religiosa para a diversidade religiosa com sua infinita riqueza de símbolos, práticas, rituais e manifestações que retratam muito bem a pluralidade religiosa brasileira.Não resta dúvida de que o nosso território religioso é um dos maiores refúgios da efervescência e criatividades religiosas do mundo. Alguém já dizia por aí: “Deus é brasileiro”. Pois é, acredito que sim.

Se levarmos em conta o surgimento e ressurgimento das mais variadas e exóticas práticas religiosas nas últimas décadas; chegaremos à conclusão de que Deus tolera tudo mesmo.Não constitui-se tarefa fácil conversar sobre o cenário religioso brasileiro, uma vez que mudanças profundas ocorreram dentro do conjunto majoritário cristão, bem como na própria sociedade, grupos, pessoas e instituições religiosas, cada qual procurando garantir seu espaço e status de fé.A irrupção das práticas religiosas atualmente parece trazer respostas para as pessoas que buscam o reencantamento do mundo; às inquietações existenciais; às necessidades imediatas e o distanciamento da realidade vivencial.Vive-se num verdadeiro ambiente de pragmatismo religioso exacerbado em que desemboca-se no aparato narcotizante da mídia. Interessante observar que o fluxo de mudança do campo religioso brasileiro repercute nos diversos ambientes da sociedade, principalmente nos meios de comunicação.Críticos mais ferrenhos do fenômeno religioso diriam que religião hoje em dia é como se fosse restaurante self service; tem pra todos os gostos e preços variados; inclusive, várias opções de cardápios; da classe baixa à alta.Na medida em que o fenômeno religioso vai tomando conta do cenário brasileiro; o declínio da religião institucional é latente, uma vez que a busca pela dimensão institucional vem sendo substituída pela busca desenfreada de respostas ao vazio humano crédulo.Para mim, pelo menos em parte, a mídia tem sido um local fértil para o avanço dessa dimensão religiosa que vai do carismatismo emotivo à frenética vontade de enriquecer do dia para a noite.Vivemos em uma sociedade de crises; crise de valores; crise de sentido; crise política; crise financeira; crise ambiental; crise econômica; crise conjugal; crise do desemprego; crise da violência; em suma, somos uma sociedade de crise existencial.Basta alimentar-se dos escritos de Z. Bauman e logo descobriremos que tudo é liquido; os relacionamentos se liquidificam constantemente; somos uma sociedade descartável; da busca incessante por desejos imediatos; da lealdade pequena; da fé descartável; da falta de compromissos e transparência humana.Diante dessa ausência de certezas que assola não somente a esfera institucional, como a esfera da vida pessoal; faz-se necessário a busca por respostas, segurança, estabilidade e consolo interior.Em meio ao conturbado contexto religioso, o emaranhado Brasil crente, se vê na obrigação de encontrar nas manifestações religiosas, respostas explicativas, ou melhor, receituários para todos os males da sociedade.Essas manifestações religiosas populares, em contrapartida, acarretam numa forte carga de subjetividade, ou seja, tornam-se meramente espaços de adesões parciais; de crentes nominais; espaços que distanciam do mundo real.Impressionante como esses espaços vão se desenvolvendo rapidamente, tornando-se espaços de múltiplas pertenças; diversidade e pluralidade religiosas.Para milhares de brasileiros, o cenário religioso oferece ordem no caos. O caos pode ser da doença; do desemprego; do desejo reprimido; da angústia; da confusão conjugal ou familiar; do relacionamento rompido; da aflição interior.O caos também pode ser a pobreza; a paixão não correspondida; o vazio interior; a lágrima vertida; a insegurança; o coração ferido; a paz ofuscada; a solidão; o coração magoado.É justamente em meio a este caos existencial que as religiões atuam, não apenas curando o corpo, mas causando a sensação de vida eterna, da alma segura num futuro incerto. Percebe-se que o Brasil crente é extremamente favorável a estas nuances da alma do povo brasileiro.Diante da fragmentação social, essas religiões acabam sendo um espaço de unidade, de síntese existencial. O aqui e agora acabam substituindo a tradição e o passado que era realidade última na historiografia da religião cristã no Brasil. Assim, entendemos que as religiões representam a ordem no caos. Acaba sendo um receituário indispensável para quem deseja se curar dos males que assolam a vida; tudo isso à luz da fé ou da emoção, depende de cada um (a).

É por isso que somos crentes, podemos crer e nos emocionar ao mesmo tempo.

Êita Brasil do meu Deus!
 
Adriano Trajano
Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL
 
Fonte: http://www.pastoradrianotrajano.blogspot.com/

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